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Configurando suas aplicações .Net Core

Antigamente tínhamos os arquivos Web.Config e App.Config em nossas aplicações .Net Framework que na verdade eram arquivos XML onde podíamos colocar as configurações de nossas aplicações, e em conjunto à eles usávamos a classe ConfigurationManager para acessá-los. Muitas vezes esses arquivos se tornavam verdadeiros monstros e sua manutenção traumatizante para muitos desenvolvedores.

Com o lançamento do .Net Core e ASP.Net Core há alguns anos, ganhamos um novo mecanismo de configuração ainda mais poderoso, flexível e simples.

Esse é um artigo introdutório, e imagino que alguns de vocês irão pensar que estou escrevendo ele fora de época ou que é muito simplista, e é pra ser mesmo, mas o que me motivou é que ainda vejo muitos desenvolvedores com alguma dificuldade ao trabalhar com o modelo de configuração do .Net Core. 

O que pretendo aqui é mostrar alguns pontos que irão ajudar a entender como esse novo mecanismo de configuração funciona.

1. Várias Fontes de Dados

Além de arquivos JSON como o famoso appsettings.json, a nova API de configuração do .Net Core nos permite ter uma maior flexibilidade ao escolher a fonte de nossas configurações. Podemos ter diversas, como:

  • Arquivos JSON;
  • Arquivos XML;
  • Arquivos INI;
  • Variáveis de ambiente;
  • Coleções em memória;
  • Argumentos de linha de comando;
  • Fontes externas como banco de dados.

Além das fontes mencionadas acima, você pode criar seu próprio provider de configuração para ler outras fontes de dados usando as interfaces IConfigurationSource e IConfigurationProvider.

2. Vários Arquivos de Configuração

Assim como nos antigos Web/App.Config, nossa lista de configurações é formada por um conjunto de chave/valor, e podem ser distribuídos em arquivos organizados de forma hierárquica separados por ambiente.

Por exemplo, podemos ter um arquivo para cada ambiente específico do nosso fluxo de desenvolvimento.

O que define qual ambiente rodar é a variável de ambiente ASPNETCORE_ENVIRONMENT. O valor dessa variável é que define qual ambiente estamos executando.

Em ambiente de desenvolvimento, na máquina do desenvolvedor, ela pode ser encontrada no arquivo de launchSettings.json, ou nas propriedades de seu projeto. Já em um sistema rodando em ambiente de produção, essa variável de ambiente deverá ser registrada no sistema operacional.

Arquivo launchSettings.json com a variável de ambiente ASPNETCORE_ENVIRONMENT

3. Sobrescrita de Valores

Normalmente, os valores que não mudam podem ser armazenados no arquivo appsettings.json, e nos demais arquivos você pode colocar apenas os valores que mudam de acordo com o ambiente em que estiver executando pois eles são sobrescritos em memória durante a execução de sua aplicação.

Arquivo appsettings.json

Arquivo appsettings.Development.json — com Log Level Default sobrescrito

No exemplo acima, ao executar a aplicação no ambiente Development, o valor de Logging:LogLevel:Default será Debug, pois o valor original que antes era Warning foi sobrescrito pelo valor do arquivo appsettings.Development.json.

4. Inicialização do Mecanismo de Configuração

É na classe ConfigurationBuilder onde toda a mágica começa a acontecer. Ela está disponível no pacote Nuget Microsoft.Extensions.Configuration.

Antes de mais nada, devemos criar uma nova instância de ConfigurationBuilder informando quais providers queremos usar como fonte de configuração. No exemplo abaixo um arquivo JSON é adicionado como provider através do método AddJsonFile, caso queira usar outro tipo de provider use o método correspondente, como AddXmlFile, AddIniFile, etc…

Muitos desenvolvedores não conseguem acessar o arquivo de configuração appsettings.json em uma aplicação do tipo Console no .Net Core, isso se deve ao fato de que o trecho de código acima não é feito automaticamente nesse tipo de aplicação, você deve inseri-lo manualmente.

Em aplicações ASP.Net Core 2.x não é necessário inserir esse trecho de código, pois isso já é feito automaticamente através da chamada ao método WebHost.CreateDefaultBuilder, que você pode ver na classe Program de sua aplicação, e então uma instância de IConfiguration é passada no construtor da classe Startup. Em versões anteriores do ASP.Net Core essa configuração era feita diretamente no construtor da classe Startup.

Recomendo que você registre essa instância de IConfiguration em modo Singleton no seu container de injeção de dependências. Isso irá facilitar a leitura de suas configurações posteriormente.

5. Lendo Valores de Configuração

Como é de se imaginar, devemos usar as chaves descritas em nossos arquivos de configuração para ler seus valores. Para isso, podemos usar a interface IConfiguration mencionada anteriormente, que está disponível no pacote Nuget Microsoft.Extensions.Configuration.Abstractions.

Ela pode ser injetada em sua classe através do construtor e com isso podemos ler os valores através de seus métodos GetValue<T> informando a chave da qual desejamos obter o valor.

Veja que a chave informada obedece a hierarquia que está no arquivo de configuração, com os nós separados por dois pontos “:”.

Os valores sempre são armazenados como string por default, entretanto, veja que eu informo o tipo de dado apropriado para o retorno do valor para que seja feita a conversão apropriada, nesse caso, se você estiver lendo valores numéricos, pode fazer a chamada como configuration.GetValue<int>(“chave”) por exemplo.

Além dos valores de configuração armazenados em arquivos, você pode ler as variáveis de ambiente do seu sistema operacional.

set LOGGING__ENABLED=True 
set LOGGING__LEVEL=Debug

Recomendo que você use “__” para separar as palavras no identificador de suas variáveis de ambiente, pois o carácter “:” não é muito adequado para esse uso.

Não se preocupe em usar caixa alta na definição das variáveis de ambiente, o acesso à elas é indiferente entre maiúsculas e minusculas pois é case-insensitive.

6. Lendo Valores de Configuração com Objetos Fortemente Tipados

Além de ler os valores como string usando o método GetValue<T>, você pode fazer o parse para objetos definidos como classes POCO (Plain Old CLR Object). Hoje essa é uma das formas mais comuns ao se trabalhar com valores de configuração no .Net Core.

Para isso usaremos o que é conhecido como Options Pattern. Ele é útil para agruparmos configurações relacionadas entre si em objetos bem definidos.

O primeiro passo é criar uma classe simples com as propriedades que compõem nosso objeto de configuração.

Em seguida, na classe Startup, você deve ler uma seção de seu arquivo de configuração usando o método configuration.GetSection, e então registrá-lo no container de DI através do método services.Configure<TOptions>, sendo TOptions a sua classe POCO.

Ao registrar seu objeto no container de DI, na verdade ele será definido como uma instância de IOptions.

Em muitas literaturas você poderá ver a chamada ao método services.AddOptions sendo feito antes da chamada ao método services.Configure. Essa chamada era obrigatória para registrar os serviços necessários para usar o Options Pattern em versões anteriores do .Net Core. A partir das versões 2.x não é mais necessário fazer essa chamada explicitamente, pois o método services.Configure irá executá-lo internamente.

Para usar seu objeto de configuração, você deve simplesmente receber um IOptions<T> no construtor da classe onde deseja usá-lo, sendo T o tipo do objeto. No exemplo abaixo faço uso em uma Controller do ASP.Net.

Você deverá perceber que o objeto de configuração está armazenado na propriedade Value do Options que você recebeu no construtor.

Além do IOptions, existe a interface IOptionsSnapshot, que te dá a possibilidade de recarregar as configurações em tempo de execução após elas serem alteradas no arquivo de configuração. Elas são recalculadas em cada requisição e são armazenadas em cache durante o período de duração da requisição.

Lembrando que os únicos providers que permitem que sejam recarregados em tempo de execução são àqueles baseados em arquivos JSON, XML e INI. Os demais não permitem que um evento de mudança seja disparado para a aplicação. Nesse caso você deverá reiniciar sua aplicação para que as mudanças tenham efeito.

7. Lendo Strings de Conexão

Muitos desenvolvedores ao iniciar os estudos em .Net Core usam o recurso de Options Pattern para ler uma string de conexão de acesso à base de dados, dessa forma criando classes desnecessárias para esse fim.

A interface IConfiguration já possui um método de extensão exclusivo para ler strings de conexão que se chama GetConnectionString onde é necessário apenas informar o nome da conexão desejada. Na verdade esse método é um atalho para o uso de GetSection(“ConnectionStrings”)[name].

Arquivo appsettings.jon

Conclusão

Como vimos, o novo mecanismo de configuração do .Net Core é muito flexível e poderoso. Aprendendo a usá-lo corretamente você terá um ótimo aliado em seus novos projetos .Net Core.

Alguns recursos vistos aqui já existiam no mecanismo anterior, porém era um pouco trabalhoso de serem usados e a manutenção não era tão trivial assim.

Nos próximos artigos irei mostrar como usar alguns recursos mais avançados de configuração.

Espero que tenham gostado, e se ficou alguma dúvida não deixem de entrar em contato.

Abraços!

Referências

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